É fato histórico que todos os homens realmente
espiritualizados e profundamente felizes eram e são dedicados amigos da
natureza... Refere o livro do Gênesis que Deus pôs o homem no meio de um jardim
maravilhoso, uma espécie de pomar chamado Éden, para que cultivasse e se
alimentasse de seus frutos. Só depois que o homem cometeu o primeiro homicídio
é que ele abandonou a Natureza de Deus e preferiu a cidade dos homens. O homem
espiritualizado, porém, continua amigo do Éden de Deus...
O homem primitivo, meramente sensorial, é escravo
da Natureza.
O homem intelectualizado é escravocata e explorador
da Natureza.
O homem espiritual é amigo e aliado da Natureza;
compreende a Natureza, e a Natureza o compreende.
A nossa civilização moderna fez com que o homem se
divorciasse, total ou parcialmente, da Natureza, fazendo o viver num ambiente
artificial, desnatural, antinatural, não menos prejudicial ao corpo do que à
alma...
O que leva muitos homens a abandonarem os campos e
se aglomerarem nas cidades não é só a necessidade de cultura nem mesmo o desejo
de lucros fáceis e rápidos,mas sim, e sobretudo, o horror à solidão. A solidão
externa aterra o homem que não possui plenitude interna. Esse homem,
interiormente vazio, tenta fugit de si mesmo e encher com barulhos externos a
sua vacuidade interna...
...O homem moderno nunca voltará aos tempos do
homem pré histórico, ou dos silvícolas de nossas florestas. A verdadeira
natureza do homem é espiritual, divina. O verdadeiro regresso à Natureza é,
pois, um "ingresso", uma entrada do homem para o seu próprio
interior, espiritual, eterno, divino...
Só quando o homem atinge a sua verdadeira natureza
espiritual é que ele se torna plenamente natural- e só então começa ele a
compreender a alma da Natureza ao redor dele. Os nossos poetas e romancistas,
não raro, celebram os encantos da natureza; mas a maior parte deles só conhece
o corpo da Natureza, ignorando-lhe a alma.
Só o homem que encontrou dentro de si a natureza da
alma é que pode compreender a alma da Natureza fora de si mesmo. Para, de fato,
compreender a Natureza de Deus deve o homem compreender o Deus da Natureza.
Hoje em dia, milhares de pessoas das grandes
cidades passam os domingos e feriados em seus sítios. Infelizmente, muitos
desses "sitiantes" são verdadeiros "sitiados", porque vivem
em voluntário "estado de sítio". O fato de não terem encontrado a sua
natureza interior não os deixa viver na simbiose com a alma da natureza
exterior.
Fugiram da poluição material da cidade, mas
carregam consigo e transferem para o campo e para o mato a sua poluição mental
e espiritual... O verdadeiro sitiante vai dormir cedo e acorda cedo, com o sol
ou antes dele. Planta árvores frutíferas para si e sua família e para os
passarinhos.
Não mata passarinhos nem os aprisiona em gaiolas.
Convive com a alma de todos os seres vivos.
Huberto Rohden
O caminho da felicidade, páginas 99 a 101 - Segunda
Edição-2005, Editora Martin Claret